segunda-feira, 7 de outubro de 2019

UM SONHO QUE SE SONHA JUNTO...

    O DIA DO METAL NO ROCK IN RIO
                                   
Confesso que não estava muito animado com esse Rock in Rio. Mas, sabe quando lhe dá um instalo, e você pensa: "caramba, vai ser um dia histórico para o metal nacional, preciso estar lá!".

Vocês podem achar que sou louco, mas eu fiquei ansioso para ir exatamente pelas três bandas que iriam abrir o evento, e seria a primeira vez delas no Rock in Rio: Nervosa, Claustrofobia e Torture Squad. E ainda de quebra no line-up do festival teria Slayer, Sepultura, Anthrax e Iron Maiden.

Já vamos voltar às bandas nacionais, antes, vamos contar como chegamos no Rock in Rio:

São Paulo, 15:30 , dia 3 de outubro, após trabalhar, e a chefe me liberar para faltar na sexta-feira depois de muita hora extra, era a hora de pegar o ônibus para o RJ. Muitos roqueiros/metaleiros dentro do bus, eu estava de social-sport, talvez enganando como um cara que nem sabia o que ia rolar na sexta-feira no Rock in Rio. Mas assim que é legal. A surpresa é sempre bem vinda.
Com 6:30 de duração, a viagem finalmente chegará ao fim (com uma pequena parada em Aparecida de meia hora) chegamos na Cidade Maravilhosa. Graças aos deuses do metal que não estava um calor de 40 graus. No Rock in Rio de 2013 a temperatura passava dos 40...

Perguntei para uma garota se era possível pegar um Uber ali na rodoviária da cidade do Rock in Rio. Como eu já previa, ela disse que não. Os taxistas dominam a entrada da rodoviária. Caminhei um pouco e consegui chamar o motorista da uber. Era um simpático vascaíno, que ganhou a maior gorjeta da noite, pois ele não tinha troco. Eu chegava ao meu destino, e agora precisava descansar para a maratona do dia seguinte.

Dormi bem, e acordei empolgado para chegar logo ao Rock in Rio. Comi um dos melhores sanduíches que já provei, um misto-quente com ovos e bacon, era tão caprichado que após matar a larica com três deles, isso serviu de combustível para me dar fome no festival só lá pelas 18 horas.

A estação do metrô Nossa Senhora da Paz era perto de onde eu estava ficando, perguntei para um casal com camisa do Iron Maiden (eles também estavam indo para o RIR). Quase meio-dia, e eu já estava apreensivo para chegar ao festival. Ainda era cedo. Comprei o Rio Card, R$28,00, ele dava direito a pegar o BRT, o ônibus que sairia da estação Jardim Oceânico e nos deixaria na porta do Rock in Rio.

Uma multidão se aglomerava para pegar o BRT, parecia saída de jogo de futebol. O bus demorou pra chegar, e depois que entramos, o veículo demorou um pouco para sair. Todo mundo cantando dentro do BRT, um colombiano fazia a festa gritando: "vamonos... vamonos..." Um calor insuportável.
Ele bebia uma Skol, um brasileiro disse para o colombiano: "você está tomando a pior cerveja do Brasil". Todo mundo caiu na risada.
O mesmo colombiano já pegando o espírito brasileiro bravou: cerveja brasileira, cerveja... só 50 reais.

Quando o ônibus começou a andar, todo mundo gritou como se fosse um gol. E como o transporte coletivo estava lotadíssimo, nas curvas ele quase tombava, e todo mundo também soltava suas vozes como se fosse uma montanha-russa.

Chegamos às 13 horas no gigantesco Parque Olímpico. Com 385 mil metros quadrados, eu diria que é até impossível conhecer tudo em um mesmo dia.
Os portões só iriam abrir às 14 horas. Enquanto isso, na fila, do lado de fora, tinha um palco, onde um belo duo tocava covers,  podemos ver de perto, a bela releitura das músicas dos Beatles.

Quase duas hora de tarde e ainda estávamos na fila, o primeiro show, das minas da Nervosa iria começar às 14:40. Seria que daria tempo de assistir? Ainda na fila, na minha frente, em uma coincidência gigantesca, encontrei minha amiga Andrea, a presidente do Claustruth- fã clube do Claustrofobia.

Após passarmos pela revista, conseguimos entrar! Eu comecei a andar rápido, não queria perder o show da Nervosa.

Fernanda Lira (vocalista e baixista), Prika Amaral (guitarrista) e Luana Dametto (bateria) entraram no horário previso. Como muita gente falou, nunca se viu tanta ovação para uma banda de abertura, elas já conquistaram o público nos primeiros acordes. Com quase 10 anos de estrada, a banda na sua discografia conta com três álbuns e dois eps, já se apresentaram em mais de 50 países. A plateia no palco Sunset ia chegando e após as primeiras músicas, já estava lotado, e com vários moshs rolando, a Nervosa fez um show histórico. No palco, Juninho (baixista do Ratos de Porão) filmava com orgulho a sua namorada, Fernanda. Os pontos altos do show foram a homenagem para a vereadora assassinada Marielle Franco e a crítica a união entre política e religião que nos assola hoje em dia. Enquanto o coro uníssono de xingamento ao nosso presidente rolava, a banda não parava e disparava o seu thrash potentíssimo não deixando ninguém parado, na "Into Moshpit" o trio mostrou mais uma vez, como disse nas suas próprias palavras, Fernanda: "acharam que mulher não sabia fazer thrash metal... quem achou tava errado". Palmas para essas três mulheres que aguentaram muita patifaria, para conseguirem realizar um dos sonhos de suas vidas.

Uma historinha off-record: eu acompanhei muitas vezes a jornalista Fernanda Lira antes dela começar com a banda Nervosa, já a admirava nos programas Maloik, e nas suas entrevistas com grandes nomes do metal para revistas, etc. Quando a Nervosa surgiu, eu trabalhava com a banda Muqueta na Oreia, e tentei organizar uns eventos com essas duas bandas. Conversei com a Fernanda e perguntei o que ela achava do Muqueta abrir o show para elas. Fernanda com uma simplicidade incrível, me disse: "magina, cara, nós que temos que abrir para o Muqueta!". Achei muito legal isso. Talvez seja daí que venha todo o seu sucesso e da sua banda. Vemos muitas pessoas arrogantes nesse meio, inclusive nesse Rock in Rio mesmo, um grande amigo me contou sobre um famoso vocalista de uma banda de metal. Mas isso é uma outra história...

Ainda era cedo, mas eu já estava com o pescoço dolorido de tanto banguear, a próxima banda, ou as próximas a se apresentarem, seriam o Claustrofobia e o Torture Squad. Todos estavam ansiosos aguardando o encontro dessas bandas com a lenda do metal, Chuck Billy do Testament.

Vou deixar para falar sobre o Claustro mais pra frente, antes quero comentar sobre o Torture Squad. O Torture já tocou no maior festival de metal do mundo: O Wacken Open Air. Com quase 30 anos de história, com mais de 10 discos lançados, a banda atualmente é formada por: Mayara Puertas (vocalista), Rene Semionato (guitarra), Castor (baixo) e Amílcar Christófaro (bateria). A banda já teve muitas formações, mas muitos dizem que essa atualmente é o melhor line up da banda. May "undead" é uma frontman espetacular, alternando guturais com agudos com a mesma intensidade, uma curiosidade é que a Fernanda Lira da Nervosa indicou a Mayara para entrar no Torture Squad, na época, Amílcar namorava a Fernanda. Após esse momento "Nelson Rubens", vamos voltar a falar sobre o poderoso show do Torture. Com imagens do clipe de "Blood Sacrifice", essa faixa está no último disco da banda "Far Beyond Existence", e com a performance da Maha Kali, a deusa hindu, no palco, interagindo com a vocalista do TS, deu um brilho especial a apresentação mais do que espetacular da banda. Com mais duas músicas: Horror and Torture e Raise your Horns, que tem o refrão perfeito para esse dia do metal no Rock in Rio: "I'm a banger!".

Os caras do Torture são gente fina pra caramba, estive duas vezes no estúdio deles, e pra mim foi a realização de um sonho, ver uma banda tão foda ao vivo, ali, só pra mim, em um ensaio rotineiro. Fiz uma entrevista com eles, está aqui no blog, clique nas tags aqui do lado direito e leia uma das entrevistas mais legais que fiz na minha carreira de jornalista.

Antes do Torture Squad subir ao palco, vi meu grande amigo, Stephan Natal, o popular "Gordão", trabalhando como roadie, me deu um puta felicidade ver meu amigo realizando também um sonho, eu sei o tanto que o Gordão trabalha, gritei pelo seu nome, ele me viu e me acenou, botando a mão no peito, e no coração, sem palavras, mio fratello.

Daqui a pouco continuo falando sobre o Torture e sobre o encontro que aconteceria entre o Claustrofobia, o Torture e o Chuck Billy do Testament.

Ao término desse encontro, eu já estava podre, muito cansado, e ainda eram umas17 horas... Escutei o Sepultura de longe, até estranhei, porque o show da maior banda de metal do Brasil de todos os tempos, estava programado para começar às 18 horas. Mas, como a minha sede era muito grande, bebi um litro de refrigerante, e fui até o palco Mundo conferir o SEPA.

Com a plateia já quase em 100 mil pessoas, o Sepultura fez um show habitual do grupo: ou seja, não deixam pedra sobre pedra. Andreas soltou que a banda estava fechando a turnê do último disco "Machine Messiah", que exatamente havia começado no último Rock in Rio. A banda divulgou a capa e nome do seu próximo disco que será lançado em 2020- "Quadra", e tocaram uma canção nova. Será que o álbum será inspirado no Império Romano?

Depois do show da banda globalizada, no melhor da palavra, era a hora de procurar um lanche e caçar as camisetas do festival.

Com dois sanduíches e muita água na cachola, era a hora de presenciar o último show do Slayer em terras tupiniquins. Eu já estava muito cansado, como mencionei acima, mas queria curtir o show numa boa, porém,no show do Slayer você não consegue curtir numa boa, você tem que entrar nas rodas, e não tinha como escapar, era mosh para todos os lados, inclusive com sinalizadores acessos no meio do público. O Slayer fez um show digno de uma banda que dá medo. Hoje em dia é raro isso. Nos tempos atuais, é todo mundo bonzinho fazendo rock and roll.

Chegava a hora de dar mais uma volta, resolvi dar um pulo na roda gigante. Imaginei que ficaria umas duas horas na fila, até que foi rápido. Conheci um casal e uma família bem legais. Nesses festivais, mesmo você estando sozinho, você acaba conhecendo e conversando com muita gente bacana.
Na roda-gigante tive um dos momentos mais bonitos da minha vida. O show do Iron Maiden começou e eu assisti lá de cima. Foi épico. Quem diria que um dia assistiria um show da banda mais famosa do metal mundial junto com o Metallica, de uma roda gigante?! Foi surreal, eu só podia abrir um sorriso e agradecer os deuses do metal por um momento como esse.

O show do Helloween e do Antrax eu vi bem pouco, então não posso falar muito. Escutei muitos elogios sobre o show do Antrax. Helloween não é minha praia, mas alguns amigos falaram que foi um belo concerto.

Era quase meia noite, mandei mais um lanche, dessa vez do Cão Véio, do Henrique Fogaça, e resolvi que iria conhecer mais um pouco o parque olímpico e o Rock in Rio. Cheguei na parte da música eletrônica. Estava lotado. Do lado tinha uma montanha russa. Criei coragem e fui. Fazia anos que não entrava numa montanha russa. Quando desci da montanha russa, me deu uma bela dor nas costas. Quase 40 anos, não é mole. E ainda fora de forma. Hoje aqui em São Paulo, na volta, depois de 15 horas em pé, estou com bolhas no pé, e dor por todo o corpo. Mas valeu a pena. Sempre vale.

Não aguentei ver o show do Scorpions. Foi até melhor. Saí em um momento bem tranquilo. Peguei o BRT, e o metrô de volta para "casa". O inusitado aconteceu dessa forma: era quase duas da manhã, eu e mais 6 gatos pingados descendo na estação Nossa Senhora da Paz, a porta da estação estava fechada, mas, era só a gente abrir. Provavelmente fizeram isso para "despistar" os ladrões e mendigos.

Eu falei muito de sonhos nesse texto, de como deve ser difícil você batalhar para um dia chegar ao maior festival do mundo. As pessoas tem sonhos, alguns são bem fáceis de se realizar, outros só conseguem em outras vidas, ou só sonhando mesmo, e acordando suado por ter percebido que era só um "sonho". Pode ser o sonho da garota que vendia energético na saída do Parque Olímpico, ela me contou que sonhava em ver o seu time do coração no estádio. Pode ser um sonho de um garoto que um dia colocou a guitarra nas costas e disse para Deus e o mundo: " eu vou tocar no Rock in Rio!".

Lá pelos meus 13/14 anos, comecei a escutar Heavy Metal. É claro que a banda que me chamou a atenção e me fez  apaixonar pelo estilo foi o Sepultura. Só o nome já amedrontava. E eles eram brasileiros!
A banda já fazia sucesso no mundo inteiro. Eu já estava viciado no Sepultura. Consumindo tudo e mais um pouco sobre a banda.

Porém, nessa mesma época, eu vivia assistindo à MTV, e em um programa de disputa entre bandas, surgiu o nome do Claustrofobia. Eu fiquei impressionado com aqueles moleques, na época eram todos adolescentes. Assim como eu. Eu que não conhecia nada de metal naquela época, principalmente desse estilo. Me vi representado por aqueles caras. Eu sempre tive isso em minha vida: porra, poderia ser eu ali! Muitas vezes eu gostava mais da referência do que do original. É engraçado isso, tem várias bandas clássicas no rock que eu não gosto muito, mas gosto das bandas que se inspiraram nos medalhões. Com o Claustro foi uma identificação logo de cara. Parecia um sonho de moleque. Olha só, os caras com essa idade tão fazendo um som inspirados por uma outra banda que eu amo. Os caras são irmãos também. Vocalista e batera também. Eu era loiro igual eles. Se não tivesse perdido os cabelos, teria o cabelo do mesmo jeito (risos).

Eu fui acompanhando a banda, naquele tempo sem internet, a gente não sabia se a banda tocava, se ainda existia. Eu lembro que sempre ia até a Galeria do Rock perguntar "o Claustrofobia lançou um álbum?
Até que em 2000,eles lançaram o primeiro. Eu tinha 18 anos. E assim minha vida, como de muitos fãs da banda, e como muitos fãs de metal, minha vida foi seguindo paralela ao Claustro. Eu mostrava para todos os meus amigos que curtiam rock/metal o som dos caras, eu fiz amigas que não curtiam esse som irem no show no Outs na augusta. Eu fiz minha ex-namorada ir comigo no lançamento do dvd da banda.

O Claustro foi evoluindo, mantiveram a mesma formação por quase 20 anos: Marcus D'Angelo (vocalista e guitarrista), Alexandre de Orio (guitarrista), Daniel Bonfogo (baixista) e Caio D'Angelo (baterista).


É bem louco isso, uma banda ir acompanhando todos os passos da sua vida. Quando eu os conheci, eu estava no ginásio, depois colegial, na faculdade eu apresentei e emprestei todos os discos que tinha da banda para meu amigo Rodrigo. Fomos até na Expo Music ver os caras.

Até que em 2016 eu virei brother dos caras. Comecei a conversar com meu grande ídolo: Marcus. Ele viu que eu era muito fã, leu as coisas que eu escrevi sobre a banda e me convidou para estar com eles no Circo Voador, o Claustro iria ser a banda de abertura do Soulfly. Eles fizeram eu conhecer o meu outro grande ídolo: Max Cavalera. Só isso.

 Em 2019, recebemos a notícia que muitos fãs esperavam: o Claustro entrou para o line up do maior festival do mundo!


Com 6 discos e um ep lançados, o Claustro tocou pela primeira vez no Rock in Rio.

Atualmente a banda conta na formação com Marcus, Caio e Rafael Yamada (baixista). Eu nunca tinha visto um show deles com esse line up. E calhou de ser no maior festival do mundo: Rock in Rio!

A banda abriu o show com "Pinu da Granada", do álbum "Peste", tocaram "Metal Malóka" e "Bastardos do Brasil" e fecharam com "Peste", não
 sem antes tocar o mais novo single "Vira Lata".

Depois desses petardos, era a hora de chamar o Torture de novo para tocar com o lendário Chuck Billy do Testament. Foi uma aula da metal, com clássicos da banda americana.
Ao término dessa junção magnífica, eu só conseguia ver os olhos brilhando de todos os familiares das bandas presentes: o pai e a mãe dos três irmãos D'Angelo, o Bruno é o "chefinho" como dizem, faz de tudo pelo Claustro, ele que põe ordem na casa (risos), foi legal também o pulo que a mãe do Rene Semionato deu em cima do filho.

Foi um sonho realizado para todo mundo. Desde os roadies, aos assessores de imprensa: Phil Lima, Gleison Junior, os músicos e os fãs das três bandas que abriram o evento. Obs: eu criei uma playlist no Spotify com essas três bandas, o nome é Rock in Rio Metal Nacional.

Quando entrei no Rock in Rio estava tocando Beatles, quando eu saí, também. Talvez isso seja emblemático, da banda que mudou o conceito, ou criou o conceito do que é um fã.

 Um dia sonhei que assistiria o Claustro no Rock In Rio, eles há anos mereciam isso.

Eles conseguiram!!!

Quero agradecer ao meu Godfather, que também é um excelente músico
, pela estadia, e pelo ingresso! Ajudou a realizar mais um sonho, um sonho de um moleque que sempre acompanhou a sua banda do coração, e esteve com eles no maior sonho de suas vidas! Parece uma vitória também minha!

Acredite!

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