segunda-feira, 1 de outubro de 2018

GORDÃO, O REI DO GROOVE!




Entrevistei esse grande baterista e ser humano, Stephan Natal ( Gordão), músico que leva o seu ritmo para todos os cantos do país.
Em uma entrevista sincera e emocionante, Gordão revela todo o seu amor pela música.

Confira:

Pedro: Stephan Natal, nos conte um pouco como foi o seu começo como músico

Stephan: Eu comecei a tocar bateria com 13 anos, sempre quis estar envolvido com música, meu pai foi baterista do Renato e seus Blue Caps, a vida inteira ele me mostrava os discos, envolvia muita música, então isso aí já me influenciou desde criança. Então aos 13 anos eu comecei a  tocar bateria, fui aprender violão, não consegui aprender violão, a professora falava pra mim: como violonista você dá um excelente baterista... eu ia pra aula, ficava batucando no violão, não conseguia tocar. Aí voltei a tocar bateria, aí graças a Deus me desenvolvi no instrumento. Aí quando eu tinha 17 anos fiz meu primeiro show com uma banda chamada Letal Gab, que era cover de Red Hot Chili Peppers, depois a gente começou a escrever umas músicas próprias, mas era uma formação de adolescente, ninguém queria se profissionalizar, a gente só queria tocar, tirar uma onda, e logo acabou. Tive uma outra banda de pop rock, que eu tive a honra de trabalhar junto com o Anderson, que foi baixista do Kiko Zambianchi, ele era o produtor da minha banda, um ser humano "iluminadaço", infelizmente ele faleceu há 2 anos, foi o cara que me ensinou a respirar música, de verdade, o cara que me ensinou a tirar o som do instrumento, ele falava que tinha que fazer a bateria falar, que o difícil é fazer o fácil, então por isso que meu estilo de tocar batera é... não sou um baterista rápido, mas eu sou um baterista constante, eu gosto de tocar groovão, segurar o groove, poucas viradas, mas as viradas que eu toco são aquelas que falam, que a pele ressoa, sacou? Depois eu tive o Stanka , na sequência eu trabalhei como produtor, nesse meio tempo trabalhei como roadie e estou trabalhando como roadie profissional e baterista profissional do Rage Against The Machine Tributo Brazil.

Pedro: Sempre sonhou em ser músico ou a vida te fez seguir por esse caminho?

Stephan: Eu sempre fui muito influenciado pelo meu pai, meu pai escutava bastante rock and roll, bastante blues, bastante jazz, rock nacional bastante também, então eu sempre tive essa veia musical, eu acho que tudo na infância contribuiu para eu me tornar músico, porque meus pais compraram pra mim um tecladinho de criança, eu já começava a fazer barulhinho, fui crescendo escutando os discos que meu pai gravou com o Renato e seus Bluecaps, acho que ele gravou um disco só, o primeiro. Meu pai era amigo do Nescau, o cara que fez o jingle "Pizza com Guaraná", tocou com ele em outra banda, então eu sempre fiquei envolvido nesse meio musical, nunca tinha levado em consideração isso, até montar uma banda de pop rock chamada Irã, que foi dos meus 18 até os 20 anos, foi onde eu conheci o Anderson, produtor da minha banda, o baixista do Kiko, que eu comentei anteriormente, ele tocou com o Ordep, aí ele abriu minha mente, e me mostrou a possibilidade da profissionalização da música, fora do mainstream, que o pessoal tem dificuldade em enxergar esse tipo de coisa, então ele mostrou pra mim que é possível sim viver de música sem estar na mídia. O pessoal acha que não existe isso, né?! Que músico é igual a mídia, mas não, pelo contrário, pouquíssima parcela dos músicos que estão na mídia, na tevê, na rádio,a  grande safra dos músicos mesmo, grandes músicos, às vezes a gente nem escuta falar, a partir dessa banda eu comecei a me profissionalizar, comecei a trabalhar de roadie também, comecei a aprender também e me apaixonei pelo backstage e estou até hoje.

Pedro: Na sua família existem outros músicos?

Stephan Gordão: Como falei antes, meu pai tocava bateria, minha mãe é artista plástica, os meus dois avós... um foi desenhista industrial e o outro era ator, então minha família sempre respirou arte, sempre teve artista, não digo necessariamente músico, mas um foi pro lado da música, outro para as artes dramáticas, tenho um primo que fez curso de palhaço, ele é palhaço profissional, então minha família sempre respirou arte, e isso é uma coisa bem legal. Tem meu irmão também que tocou comigo no Irã, no Stanka durante muito tempo a gente trabalhou junto, então todo lado da minha família que você olha assim tem arte acontecendo, com certeza isso me influenciou pra caramba, porque eu cresci nesse meio, no meio do desenho, da pintura, da escultura, da música, da gravação, do teatro, do circo...

Pedro: O que a música significa pra você?

Gordão: A música pra mim é tudo, até quando você não trabalha com música, você está cercado por música, escutando rádio, conversando sobre música, é uma maneira de se expressar fora do mundo escrito, de colocar todo o sentimento que você tem dentro de uma música, de uma letra, de um groove, de uma linha de guitarra, de uma linha de baixo, do canto, do batuque, qualquer coisa. Acho que a música é a válvula de escape do ser humano conseguir respirar fora dessa sociedade louca, acho que ela sempre existiu como N maneiras, seja como contestação, entretenimento, mas ela sempre vai existir, ela sempre vai ser essa válvula de escape, quando você vai num rolê escutar uma música pra extravasar, você vai fazer o show, escutar o show da banda que você gosta, vai ver o show da banda que você gosta, acho que até quando não tem música necessariamente dito, o instrumento, coisa gravada, a música está presente, então é a coisa mais maravilhosa que existe, que o homem consegue trabalhar com pureza, se você for pensar música é um negócio puro, a parte artística, vamos levar em consideração a parte artística, é um negócio puro, não tem preconceito, não tem homofobia, não tem racismo, não tem nada, na sua essência, então é a melhor coisa que existe no universo é a música, as frequências, as cores que as frequências pintam são as melhores coisas que existem.

Pedro: Quantas bandas você já teve?

Gordão: Eu sempre tive bandinha quando era menor, mas quando eu comecei a fazer banda de verdade, foi o Letal Gab, foi a primeira banda que eu tive, era cover de Chili Peppers, depois a gente começou a fazer música própria, era na época que eu morava em Barueri, então, a gente fez vários shows ali na área, tinha uma galerinha que colava, eu tinha 17, 18 anos, mas durou pouco tempo porque o pessoal estava no colegial, ia fazer faculdade, então acabou que não durou, depois tive uma banda que chamava Irã, como falei antes, que era de uns amigos meus, o Anderson era o produtor, vou repetir de novo, porque esse cara era o mestre do bagulho! A gente chegou a gravar um disco, só que a gente nunca lançou porque... apesar de todo mundo querer se profissionalizar, era muito diferente o que cada um queria, então tinha um cara que queria ir pro sertanejo, tinha um cara que queria ir pro rock, outro que queria tocar psicodélico, então a gente não chegou num consenso, acabou ficando um pouco nonsense, como cada música era de um cara da banda, tinha uma música minha, tinha uma música de um cara, então a banda tocava um pouco de tudo e não fazia sentido nenhum, não se encaixava em lugar nenhum e a gente achou melhor não lançar o disco e terminar o trampo. Depois eu fiz o Stanka, que eu fiquei de 2013 até 2016, e foi onde eu consegui as melhores coisas dentro da música. Tocamos com o NXZero, tocamos com o Capital Inicial, tocamos com o Glória, Karol Conca, Dead Fish, um monte de banda, fizemos turnê pra fora de São Paulo, fizemos turnê em cinco estados diferentes, lançamos três trabalhos gravados, dois eps, um ep em estúdio, outro ep ao vivo, e um disco de estúdio, tivemos clipe na televisão, demos bastante entrevistas, saímos em jornal, então em Osasco, que a cidade onde o Stanka se formou, cidade natal da banda, então a galera trombava a gente na rua, tirava foto, conhecia a banda mesmo, era uma parada bem legal, tivemos bastante retorno do público com esse trampo. 

Pedro: Como conheceu o Rage Against The Machine?

Gordão: Eu conheci o Rage Against The Machine através do meu irmão, meu irmão mais velho, o Rafael, grande responsável por eu estar na música, porque ele gostava muito de metal, então eu comecei a ouvir Iron Maiden com ele, eu tinha 8 anos, e o Rage Against The Machine... escutei através dele também , ele tinha o LP, o primeiro, clássico... nossa, na hora que eu escutei aquilo ali, eu pensei: nossa senhora eu preciso ter uma banda assim! Devia ter uns 12 anos,a  primeira vez que escutei Rage, 11/12 anos, tanto é que o Stanka é fortemente influenciado por Rage, em questão de lógica, os riffs são compostos guitarra e baixo dobrados, quem escrevia a maioria dos riffs era meu irmão, o Lucas, então ele tem muita influência de Whitesnake, então os riffs iam muito por esse lado do hard rock, só que a parte do groove, do rap, essa ideia de guitarra e baixo dobrado... 

Pedro: Como surgiu a ideia de montar o RATM Tributo Brazil?

Gordão: Quand tínhamos o Stanka, quando eu estava no Stanka, eu já tinha essa vontade de montar esse trampo mais pra homenagear os caras mesmo, entendeu? Não era nada pra ganhar dinheiro, não era nada além de uma homenagem, eu não tinha a ideia de fazer vários shows, porque a gente tinha  o Stanka e trampo autoral exige muita dedicação, muito foco. No final do Stanka, eu estava trabalhando só de roadie, e surgiu uma ideia, surgiu a ideia de fazer o RATM Tributo Brazil, aí a gente tinha uma turnê marcada com o Stanka no Rio Grande do Sul, mas aí como não virou, essa turnê não aconteceu por n motivos, eu não podia desmarcar os shows , então o que eu falei: vou pegar uma galera e vou tocar Rage Against The Machine e foi isso que eu fiz, aí eu juntei meu irmão, na época que tocava comigo no Stanka, chamei o Gabriel, que foi baterista da Organic, e o Clint , que é um músico e uma pessoa espetacular, e aí a gente foi, e a aceitação foi muito boa da galera no sul, o pessoal pediu pra gente voltar, falei com os moleques pra gente continuar, e todo mundo resolveu continuar. E hoje graças a Deus estamos com várias turnês agendadas gigante, 3, 4 estados, várias bandas envolvidas, várias bandas autorais envolvidas também, e graças a Deus tá virando, a galera tá curtindo, o pessoal no Facebook manda mensagem falando que estão adorando, falando que colou no show, gostou pra caramba, então tá muito bom, pelo menos a gente está conseguindo fazer um trabalho bem feito, é muito difícil chegar próximo dos caras( Rage), porque é uma banda muito singular, um power trio, mas na verdade é como se fosse um sample para o Zack de La Rocha rimar, a banda inteira é como se fosse um dj, essa constância com a parede sonora com baixo e guitarra colado, com as linhas de guitarra, com batera, todo mundo junto, é difícil, então a gente está conseguindo ter um resultado satisfatório tanto para nós como pra galera que gosta de Rage e cola no show pra ver Rage, experiência completa. 

Pedro: Os próximos passos da banda, quais são?

Gordão: Vamos lançar uma série de vídeos tutoriais da galera da banda tocando as músicas, ensinando como se toca, algumas músicas, algumas peculiaridades da banda, instrumentos, set de pedal, de corda, de digitação, pra ficar tudo mais próximo, pro pessoal que gosta de Rage conseguir ver o vídeo e sacar os macetes que é difícil de sacar, a gente precisou ver várias e várias vezes os vídeos, e o Rage tem uns vídeos antigos que é muito difícil de perceber o que está sendo feito, porque o som é ruim, a imagem é ruim, então a gente conseguiu transpor isso pra nossa realidade e a gente vai fazer um vídeo pra galera que curte Rage e toca, e esse vídeo é para os músicos que tocam e que querem tocar Rage, que curte sacar os macetes, como é que toca, tal da parte da música, o que o cara faz, etc, então esse é o próximo plano, a gente está com uma turnê agendada na Argentina para 2019, e em 2019 eu quero consolidar a banda, quero consolidar o tributo como melhor tributo Rage Against The Machine do Brasil. É difícil, tem muita banda boa, não é nem questão de competição, sacou? É questão de proposta, tem muita banda boa aí, mas a única banda que tem a proposta de fazer uma homenagem para os caras 100% fiel é a nossa. Então quero consolidar o nome, quando a galera pensar em tributo de Rage, pensar na nossa banda. Tem uns patrocínios bem legais que a gente tá fechando, de amplificador, de baqueta, enfim, tem muita coisa louca acontecendo, dentro do possível.

Pedro: Conte alguma história curiosa que você já passou em turnês.

Gordão: Tem um acontecimento muito engraçado na época que eu tava no Stanka, foi a primeira turnê nossa no estado de São Paulo, foi a primeira vez que a gente saiu da cidade de São Paulo pra fazer show, a gente foi pro Mato Grosso do Sul fazer uma turnê lá, e a gente foi na camionete do Xirum, que era o vocalista na época, e aí na volta o que aconteceu? A camionete quebrou , ela já vinha fazendo uns barulhos e ela quebrou, na divisa Mato Grosso do Sul com São Paulo, bem na divisa, a gente ficou desesperado, a gente tava numa cidade que chamava Presidente Epitácio, na época a cidade nem no Google tinha de tão pequena que era, eram 15 lotes, cada lote com duas casas, e uma igrejinha e um centrinho, e a gente desesperado, a gente ficou dois dias na estrada com o carro quebrado, dormindo no acostamento, pedindo carona para os caminhoneiros que passava, nenhum ajudou, o carro lotado de instrumento, 5 caras dentro carro, e o João, que é o nosso roadie, que trabalha com a gente no RATM Tributo Brazil tava junto também, e a gente conseguiu chegar num hotelzinho que tinha ali, nós fomos a pé, deixamos o carro no acostamento e fomos a pé, tinha um hotel do outro lado da estrada, sentido Mato Grosso do Sul um pouco mais pra frente. Conversamos com a proprietária do hotel, a gente explicou a situação pra dona do hotel, e ela deixou a gente passar uma noite lá, pra gente não dormir na rua. Nós fomos pra lá, tivemos que empurrar o carro os 4 km até achar o retorno , porque não podia largar o carro no acostamento, voltamos, chegamos no hotel e dormimos, no dia seguinte todo mundo acordou desesperado de bravo porque a gente já tava 3 dias fora do cronograma, a gente tinha show em São Paulo, a gente não podia falhar, aí tem uma amiga nossa que morava numa cidade (Dracena) próxima ao local onde nós estávamos, nós ligamos pra ela, "oi, Ana, aconteceu isso, isso e mais isso, nós estamos na estrada há 3 dias, será que a gente tem como passar na sua casa? Só que como que nós iríamos para Dracena de Presidente Epitácio? A sorte é que a rodovia tem aqueles guinchos que quando o carro quebra você chama o guincho e ele te leva até o posto mais próximo, nós chamamos o guincho, o serviço de atendimento, nós conversamos com o cara, falamos que estávamos há 3 dias na estrada, tem como você levar a gente pra Dracena? Ele falou que não poderia levar porque essa rodovia que ele trabalhava não ia pra Dracena, teoricamente ele deveria deixar a gente no próximo posto, só que o cara viu que a gente tava na merda ali, então o que ele fez? Levou a gente até a entrada da estrada, que é uma rodovia federal, que ia pra Dracena, dali nós teríamos que chamar outro guincho, porque era outra concessionaria que atuava, só que essa estrada que iria pra Dracena não tinha guincho, então o que a gente fez, nós juntamos os miúdos ali, vamos chamar um guincho, chamamos o guincho, cada um sacou o que tinha numa loja de conveniência de um posto, o cara deixou a gente passar o débito e deu um dinheiro pra gente, a gente inteirou 170 reais, que era o guincho, chegou um caminhão muito velho, que mal cabia a camionete em cima, ele andava empinado, porque era muito peso, era muito alto, a estrada escura, não tinha luz, o cara desligava o motor no descida, se não o carro parava de funcionar, porque era muito velho, sei lá, não sei o que tava acontecendo, então nas descidas na estrada, o cara desligava o guincho, e ficava tudo escuro, e a gente em cima do carro, com medo de tombar, porque tava muito alto, conseguimos chegar lá , a gente ficou uma semana em Dracena, a gente não conseguiu fazer os 3 shows que tinha em São Paulo, a gente precisou remarcar, o conserto do carro ia dar 4 mil reais, quebrou uma peça lá, e aí a gente começou a ir nas cidades próximas a Dracena e tocar cover nos bares, tocar de tudo, classic rock, pop rock, pra levantar dinheiro pra arrumar o carro. E a galera tava até procurando emprego lá, porque a gente não sabia se ia conseguir dinheiro pra arrumar a peça, a nossa amiga ia pra rua com a gente, porque nós íamos vender o cd, a gente vendia a 20 reais o cd, pra conseguir dinheiro pra tocar, além de tocar os covers nos bares à noite, aí depois de quase 2 semanas, a gente conseguiu juntar a grana, tocando em bar, vendendo cd na rua, e voltamos pra casa. Isso que eu resumi a história, daria um livro essa história. Na época foi preocupante, hoje, lembrando é engraçado. 



Pedro: Suas palavras finais, Gordão. Valeu pela entrevista.

Gordão: De palavra final que eu queria falar pra rapaziada é correr sempre atrás do que você acredita, do que te faz feliz, dentro do seu coração, do possível, porque o sistema é bruto, ele não perdoa, o mundo não perdoa, então falar pra galera sempre correr atrás do que lhe faz feliz, e principalmente o pessoal que está na música, sentindo dificuldade, fazer o trampo se sustentar, se autossustentar, hoje no Brasil a gente tem uma realidade muito diferente, que os músicos tem mais de um emprego, não existe mais aquela coisa do cara ter a banda, só a banda ser o ganha pão dele, então hoje mais do que nunca, você tem, por exemplo, eu trabalho de roadie, vendo shows, escrevo projetos culturais, toco batera, tô dentro da música, tem vários amigos meus que trabalham em importadora de instrumento, fazem edição de vídeo, tem cara que trabalha em escritório que também tem banda, então não desanima não se a banda tiver ramelando no sentido de não estar conseguindo andar pra frente, porque às vezes o mercado está onde você não consegue enxergar, nem tudo é Faustão, nem tudo é televisão e rádio, então é enxergar a possibilidade onde não existe, ou melhor criar possibilidades, oportunidades onde não existe, então acho que esse aí é o segredo da parada, saber nadar conforme a maré. É isso.